domingo, 14 de fevereiro de 2016

Quando a motivação é uma Montanha Russa

Nesses 25 dias em Nairóbi, tive episódios de picos emocionais que vão desde um amor enorme pelo próximo, até uma frustração e desesperança sem fim. 
Devo admitir, é claro, que os momentos de amor são principalmente com as crianças. Elas são tão espontâneas, tão naturais, perguntando o dia inteiro como a gente está - até que descobrimos que "how are you?" provavelmente é uma das únicas coisas que eles sabem falar em inglês hehe. Eles se empolgam com a nossa chegada, e é claro que a gente se empolga junto! É uma energia muito boa ver tantos sorrisos por sua causa. E eles querem pegar na nossa mão, no nosso braço, talvez por curiosidade, e isso dá sim, uma grande esperança de um futuro melhor pra esse povo, pois ali está o futuro, naquelas crianças felizes em terem a oportunidade de estudar e estar na escola com os outros colegas. 
Outro momento de grande amor, compaixão, empatia, e ao mesmo tempo raiva e angústia, é entrevistando as mulheres. Agora, pode ser que eu entre em conflito com o pensamento de algumas pessoas, pode ser que eu pareça até intolerante, mas acredite, minha tolerância cultural é muito maior que da maioria das pessoas. Só que quando a cultura em questão envolve submissão da mulher, castração feminina (sim, por que é isso que circuncisão é) e cultura de estupro, minha tolerância dá uma balançada sim. Assim como quando um cara entra no Matatu (transporte público) com uma galinha viva, gritando dentro de um saco plástico. Me desculpem, mas nessas horas perco a vontade de ver o país se desenvolver, de ver essas pessoas terem condições de vida um pouco melhores... O único pensamento é que estão onde deveriam estar. Dói muito admitir isso, mas é o que passou pela minha cabeça naquele instante. Depois passa, reflito, e até entendo o porquê desses comportamentos. Mas aceitar, isso ainda é um desafio. Ainda bem que temos as crianças que restauram nossa fé, nosso amor, nossa paz. 

Meninos do projeto 50 Sorrisos segurando minha mão
Crianças da Escola Primária Kabiria


Um comentário:

Clara Fernandes disse...

Maiara, teu relato e emocionante. Não sei se você já leu "Dignidade" conta relatos de médicos do MSF e, dos lugares que estiveram. Obrigada pela sinceridade nas palavras. Abraço!