sexta-feira, 29 de julho de 2011

Preguiça cultural



Realmente espero que eu não seja mal interpretada nas palavras que digitarei a seguir, mas o que eu e a maioria dos intercambistas pudemos perceber nestas primeiras semanas de estágio é que a "tranquilidade" por aqui, é um negócio tão comum e cultural como o banho de caneca e as cabras e galinhas andando pelas ruas.

A maioria não tem muita preocupação com horários, prazos, metas, objetivos, estratégias, etc. E por vez a cobrança destes também não vem com muito rigor.

Pra quem está acostumado a cumprir horários na base da cobrança do cumprimento de metas, isso é até meio que indignante. Mas se formos pensar, isso tudo depende dos seus objetivos (quando você tem um, ou alguns).

Se você quer ser uma potência mundial, você vai trabalhar exageradamente para atingir isso. Quando você só quer sobreviver com as mínimas condições necessárias, basta qualquer "trabalhinho" que lhe dê o que comer. Quando, culturalmente, você cresce em uma escola que lhe introduz um ideal de fazer uma faculdade, ter um emprego e ganhar mais do que seus pais, você tem uma forte tendência à desejar e buscar isso. Quando, culturalmente, você cresce em uma família que lhe da algum carinho, educação, valores e condições mínimas de sobrevivência, você tem uma forte tendência à se acomodar e se satisfazer com isso.

Que o comodismo nacional tem relação direta com as condições em que o país se encontra, disso eu não tenho dúvidas. E se hoje Moçambique está em desenvolvimento, é graças aos que pegam chapa todos os dias, caminham em meio à ruas imundas, cumprem horário, traçam objetivos, e se esforçam para fazer um pouco mais do que a grande maioria.


Entretanto o que se percebe, é que mesmo os que fazem "algo a mais", tem essa tendência ao relaxamento quanto à horários (existe até a expressão "horário moçambicano", ou seja, 16h = 18h e por ai vai) e combranças. No início do estágio me avisam aqui na associação que são "muito flexíveis" quanto à isso, e que se precisasse sair mais cedo, ou faltar algum dia, a negociação é tranquila. Na prática o sair mais cedo não existe, já que não se estacebelecem horários. Faz-se o que se tem pra fazer (quando tem) e depois estamos liberados.


Conversando com dois Moçambicanos aqui da associação sobre isso, percebi que eles concordam e acham graça da minha observação, já que estão realmente acostumados com isso. "Trabalho se  termina e imprime só na hora que o professor pede, e se ele falta, já não se faz mais", disse um deles. 

Quem esta certo ou errado? Bom, prefiro pensar que isso não existe. Cultura é que nem gosto, definitivamente, não se discute. Se respeita.




Fotos no bairro da Mafalala - Maputo


2 comentários:

Rafael Stangherlin disse...

Sério, muito bom o post!
Estou acompanhando o blog e está muito legal. Continue escrevendo :)

Anônimo disse...

Aqui no Brasil tambem encontramos umas figuras assim. Marcam uma hora e chegam bemm depois. Até concordo que tem a questão da cultura, mas acho que um pouco é comodidade sim, pra não dizer falta de respeito para com quem esta esperando hehe.